quinta-feira, 19 de julho de 2018

UM DIA DE AMARGURA PARA DAVI


2 Sm 18. 1 – 19. 10

Introdução: Há batalhas que gostaríamos de nunca ter que passar por elas. Há dias que se pudéssemos apagaríamos da existência e de nossa memória. Davi estava preste a passar por ambas as situações.

1 – Preparativos para a batalha. v. 1, 2

A decisão de lutar não agradava a Davi, visto que lutaria contra o exército do próprio filho. No entanto, ele não tinha mais escolhas, pois o exército de Absalão estava marchando em direção a ele, sua família e o povo que o seguira. O rei estava se aproximando de um dos piores dias da sua vida.

1.1. Davi dividiu o povo colocando sobre eles “capitães de mil e capitães de cem”. Há textos que cita apenas “de cem”, porém sem dúvidas a multidão que segui a Davi e capazes de empunhar uma espada passava dos milhares. v. 1, 4

1.2. Ele dividiu o seu exército em pelo menos 3 batalhões sob o comando de Joabe, Abisai e Itai. v. 2. Perceba que temos um gentio que acompanhava Davi e que agora está disposto a lutar pelo rei, colocando seus homens a disposição para a batalha. A bíblia está repleta de gentios que abraçaram a causa do Povo de Deus: Raabe, Rute, Cornélio, entre outros.

1.3. O próprio Davi quer ir na frente da batalha, mas é impedido pelo povo. v. 2 - 4. Nesse texto observa-se algo extraordinário: o reconhecimento do povo da liderança de Davi, bem como a capacidade do rei de mobilizar e influenciar as pessoas, visto que o povo diz que caso eles morressem o coração do povo não sofreria com eles, pois Davi poderia ajuntar “mais dez mil como eles”. Uma lição de humildade, submissão e valorização do líder.

2 – Para aquela batalha Davi não motivou seus guerreiros à vitória. v. 5

2.1. Observe as reações de Davi antes e após as batalhas e perceba o quanto seu coração está angustiado e desesperançoso nesta ocasião. Ele dá ordens expressas a seus guerreiros que tratasse a Absalão com brandura (v. 5). Em outras ocasiões a palavra seria diferente: 1 Sm 17. 26, 32, 32 – 37, 45 – 47; 30. 17 – 21; 2 Sm 8. Observe as palavras de Joabe antes de uma batalha: 2 Sm 10. 11, 12.

Há algo intrigante nesse texto. Não podemos excluir os sentimentos do coração de um pai que está prestes a lutar contra o próprio filho. O coração de Davi estava dilacerado, porém não poderia se privar da posição de ser o Rei de Israel. Absalão já havia sido tratado com brandura em outras ocasiões em que mereceria a morte, mas Davi o poupa. Aqui, ele o poupa novamente deixando transparecer o quanto ele tem dificuldades em lidar com problemas familiares, o quanto as suas questões familiares estavam mal resolvidas. Quem sabe Davi não guardava em seu coração um arrependimento por não visitar e acertar com Absalão a situação deles enquanto o filho morava em Jerusalém e sequer o pai falava com ele. Enfim, temos um rei cujo exército lutará contra o próprio filho. De um lado um pai angustiado, mas, ao mesmo tempo, um rei cujos súditos e guerreiros esperam que faça justiça, que lhes apoiem na batalha. Do outro, temos um Absalão rebelde, divisor, que ultrajou as concubinas do pai para envergonhá-lo, que expulsou o próprio pai do trono e que agora está a procura do pai para matá-lo. Como pai compreendemos o coração de Davi. Como rei ele ficou devendo neste episódio. Como o homem segundo o coração de Deus ele prefigura o amor de Cristo por nós, que nos ama e não nos trata segundo os nossos pecados. (Sl 103. 1 - 14)

3 – A morte de Absalão. v. 9 – 15

O texto dos versículos 7 e 8 dizem que na batalha morreram 20 mil israelitas e mais do que isto morreram pela floresta. Possivelmente a floresta era densa, com covas, betas, cavernas entre os arbustos, e por isso quando o exército de Absalão fugiu tiveram problemas nesta floresta. Possivelmente caíram em covas, penhascos ou quem sabe foram mortos por animais selvagens. Certo é que milhares foram mortos pela floresta, de uma alguma forma.


3.1. Pendurado pelos cabelos

Absalão ao fugir prendeu o cabelo em um carvalho, o que vendo um soldado de Davi o anunciou a Joabe, que imediatamente trata de dar fim a vida do jovem rebelde. v. 14, 15. Absalão poderia morrer por si só, mas o perfil guerreiro e vingativo de Joabe não aceitaria ver o inimigo do rei morrer de forma natural, sem que seu sangue fosse derramado. Quem sabe Joabe lembrara-se de URIAS, um guerreiro inocente que o próprio Davi manda matar por interesses pessoais, e agora o mesmo rei manda poupar a vida de um filho rebelde que caminhava para matá-lo. Era pedir muito para Joabe.

3.2. Triste fim para um filho do rei. v. 17

Absalão teve um sepultamento sem honra. Alguns homens, que sequer sabe-se os nomes, o lançaram “numa grande cova, e levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras”. O filho rebelde do rei teve um triste final de vida. Infelizmente essa mesma história se repete em nossos dias quando muitos filhos são desobedientes aos seus pais e vivem uma vida desregrada nas drogas, álcool ou prostituição, e tem a vida ceifada nas ruas das grandes e pequenas cidades, ceifados pela violência. Não são poucos os casos de filhos de crentes fiéis que se rebelam contra o Senhor e contra os ensinamentos da família e tem esse triste fim. Outros exemplos são os obreiros que rebelam-se contra a sua liderança, dividem igrejas e ministérios inteiros em busca de poder e privilégios fora do tempo. Infelizmente muitos desses obreiros, quando não se arrependem, acabam por perder a visão do Reino de Deus e por ter um ministério muito aquém do que o Senhor havia lhes preparado. Como Absalão, em ambos os exemplos encontramos pessoas talentosas, mas que desperdiçaram o seu talento e força por não serem submissos e obedientes. De Absalão, pelo que parece pelo texto, não lhe restou nem os filhos que tinha para sua memória (2 Sm 18. 18; 2 Sm 14. 27). “A memória do justo é abençoada, mas o nome dos perversos cai em podridão”. (Pv 10. 7)

4 – As “boas novas”, nada boas aos olhos de Davi. v. 19 – 33

Neste trecho do texto podemos extrair lições muito proveitosas para nosso elevo espiritual e aprendizado.
Quando Absalão morre o mensageiro Aimaás, filho do sacerdote Zadoque, se apresenta a Joabe e voluntaria-se para levar as “boas novas” ao Rei Davi. Não era uma mensagem fácil de levar, mas ele parece querer entregá-la, visto que quando foi censurado por Joabe, que lhe informa que naquela ocasião ele não seria o portador da mensagem, ele insiste com o comandante para que pudesse dizer a Davi as novidades da batalha. Depois de muita insistência Joabe permite que ele corra. Aimaás era um habilidoso corredor e mesmo saindo atrás do cuxita enviado por Joabe ainda consegue passá-lo e chegar a Davi antes dele.
Quando foi visto pelo sentinela e anunciado ao rei que Aimaás estava vindo o monarca expressou que ele traria boas notícias, pois era um homem de bem. Parece que Davi já sabia que as palavras de Aimaás eram suaves, daquele tipo de pessoa que não consegue falar a verdade, mas que a omite, mesmo com prejuízo das pessoas e de sua própria reputação. E foi o que realmente aconteceu. Ele “desconversa” e diz que viu um alvoroço, mas não sabia o que tinha acontecido ao jovem Absalão.
Da mesma forma temos muitos ensinadores e pregadores entregando as “boas novas” pela metade. São pregadores que não tem mensagem, mas a exemplo de Aimaás fazem questão de se apresentar para falarem daquilo que não estão preparados ou que sequer sabem. A tarefa de falar a verdade ficou a cargo de um cuxita desconhecido, cujo nome não é citado.
Aquele cuxita, mesmo sendo ultrapassado por Aimaás não desiste, pois ele recebera ordem de Joabe e tinha uma mensagem para ser entregue. Ao chegar na presença do Rei Davi ele não exita e diz toda a verdade dos fatos. Fala da vitória dos exércitos do rei e ao ser questionado acerca de Absalão deixa entendido que o filho do rei estava morto. Não era uma mensagem fácil de ser entregue, mas foi.
A lição que o cuxita nos ensina é que recebemos uma ordem do nosso comandante, Jesus de Nazaré, e que o nosso foco, o nosso objetivo é levar essa mensagem conhecida a todos quantos pudermos alcançar. Na caminhada encontraremos alguns que de alguma forma passarão por nós em busca de status e posições, ou seja, não faltarão os “Aimaás”, mas nossos olhos não poderão estar sobre eles, mas focados na ordem Daquele que nos enviou. Há tantos que param no caminho ao se compararem a mensageiros como Aimaás, que não sabe esperar a sua vez, o seu tempo, além de desrespeitar o seu companheiro. Por causa de muitos “Aimaás”, muitos “cuxitas desconhecidos” tem ficado a beira do caminho, desistem de caminhar. Mas esse desconhecido deixa-nos a lição de que devemos continuar caminhado e cumprindo o ministério. No final prevalecerá a mensagem daquele que prima pela verdade.


5 – Não chore Davi! 2 Sm 18. 33 – 19. 10

A notícia da morte de Absalão joga Davi literalmente na lona. O rei saiu da presença de seus súditos e foi a um lugar reservado para chorar pelo filho morto. Este trecho nos ensinam pelo menos três lições. Veja:

5.1. O amor incondicional de um pai. 2 Sm 18. 33; 19. 4
Impossível que fosse diferente. Quando Davi passa a lamentar a morte de Absalão com choro, prantos, com exteriorização de seus sentimentos, está sendo demonstrado o amor de um pai por um filho, mesmo sendo um filho rebelde e maldoso como Absalão. É bom lembrarmo-nos de que Davi era um homem “segundo o coração de Deus”, e neste sentido representa bem o amor de Deus por nós, visto que Ele enviou o seu Filho Amado para morrer em nosso lugar “sendo nós ainda pecadores”. (Rm 5. 8). Além disso Deus não nos trata segundo os nossos pecados, “nem nos retribui segundo as nossas iniquidades”. (Sl 103. 10). Aqui não está chorando o rei, está chorando o pai amoroso.

5.2. A perda da razão de um rei. 2 Sm 19. 1 – 10

Que Davi tinha todo direito de lamentar a morte de seu filho isso é inquestionável. Porém, esse lamento e choro deveria dar lugar a razão. Após chorar e lamentar pelo filho rebelde, o Rei Davi deveria enxugar as suas lágrimas e posicionar-se na entrada da cidade para receber os soldados vindos da batalha, homens estes que arriscaram as suas vidas por ele, por sua família e por seu reino. Ao contrário, ele se tranca e o que se ouvem são gritos de um rei descontrolado, emocionalmente abalado e incapaz de se levantar e enxergar a realidade.
Essa situação trouxe uma grande tristeza sobre todos os que acompanhavam Davi em Maanaim, e aqueles que voltavam da peleja e ouviam que Davi estava triste pela morte de Absalão enchiam-se de vergonha e entravam cada um a seus aposentos. Dá para imaginar a cabeça desses guerreiros? Dá para imaginar os murmúrios pelos cantos de Maanaim?
Esse episódio ensina-nos o quão difícil é a vida de um líder. Há momentos que ele deverá abster-se de seus direitos de exprimir as próprias emoções em nome do bem e interesse coletivo. Era o que aquele exército esperava. Era o que Davi deveria ter feito, mesmo com dificuldade. É a expressão máxima de que os interesses do povo de Deus, da obra de Deus estão acima de nossos interesses pessoais. Difícil lição.

5.3. A voz da razão contra a voz da emoção. 2 Sm 5 – 7

A decisão de Joabe de entrar na presença de Davi e repreendê-lo parece um pouco questionável, mas era preciso. Era o subordinado chamando a atenção do superior, o súdito repreendendo o rei, mas a situação pedia essa atitude de Joabe, que ao longo de sua história teve também seus altos e baixos, mas nesse momento se apresenta de forma racional para tirar Davi do seu êxtase de irracionalidade.
Aconselhar e opinar nunca é tarefa fácil. Davi poderia ter visto essa atitude de Joabe como um desrespeito. Mas o certo é que podemos aprender com as repreensões dos que nos amam, e também daqueles que não nos querem bem. Devemos filtrar as informações e tirar conclusões aplicáveis a cada caso, sem julgarmos prematuramente as opiniões e conselhos que recebemos. Davi poderia até não ter gostado, mas colocou em prática o conselho de Joabe e se apresentou ao povo, que reanimaram-se e vieram ao seu rei.
Essa atitude aconteceu no momento certo, visto que em todas as tribos a fragilidade de Davi já estava sendo assunto de “esquina”, pois o rei que livrou o povo de seus inimigos e derrotou os filisteus, “fugiu da terra por causa de Absalão”. (2 Sm 19. 9). Mesmo com o emocional abalado Davi teve que assumir a vitória sobre Absalão, fortalecer a sua liderança e assumir novamente o controle da nação. O resultado não poderia ser outro, pois o povo chega a conclusão que sendo Absalão morto não restava outra coisa a fazer senão trazer Davi de volta para reinar em Jerusalém. A postura positiva de Davi após os conselhos de Joabe reanimou o povo, e calou os seus adversários. A ordem desde então era: “agora, pois, por que vos calais e não fazeis voltar o rei?” (2 Sm 10. 10)

Conclusão: Não resta dúvida de que Davi estava vivendo os resultados de seu pecado, e de que a “espada” de que profetizara Natã mais uma vez visitara a sua família. Davi vivenciou um dos dias mais amargos de sua vida, mas ainda nessas condições adversas experimentou o livramento do Senhor e aprendeu a duras custas.

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